Embora ainda discretos, os sinais de recuperação da economia devem se refletir no mercado de trabalho brasileiro em 2018. Segundo uma pesquisa feita pela consultoria Deloitte, 41% das grandes e médias empresas pretendem aumentar seus quadros de funcionários. Em 2016, esse objetivo era citado por apenas 26% dos empregadores. A expectativa é de que as vendas cresçam, em média, quase 20% no ano que vem. O estudo mostra, ainda, que há previsão de aumento dos investimentos, impulsionado pela queda da inflação e dos juros básicos da economia, com alguns setores voltando a investir e contratar. Por isso, quem está à procura de emprego agora deve aproveitar para se capacitar.
A justificativa, de acordo com 63% das empresas, é a perspectiva de retomada do crescimento econômico. Segundo o Guia Salarial 2018, publicado pela empresa Robert Half, a expectativa de melhora do cenário é unânime, e as companhias já começam a tirar projetos da gaveta, o que deverá gerar um impacto positivo no cenário de contratações.
— Temos observado uma pequena melhora no mercado de trabalho. Vimos também a recuperação do setor automotivo, com as vendas crescendo 10%. Algumas empresas estão retomando o terceiro turno de produção, que estava parado, gerando reflexos para a cadeia, incluindo os ramos de autopeças e siderurgia. Outro mercado com certa relevância é o de construção de linhas de transmissão de energia elétrica, o que já indica uma movimentação no setor que tem experiência em infraestrutura — disse André Nolasco, diretor da consultoria Michael Page no Rio de Janeiro.
Por outro lado, Bruno Ottoni, pesquisador da área de Economia Aplicada do FGV IBRE, acredita que a reforma trabalhista pode gerar impactos no mercado de trabalho:
— Esses novos contratos (mais flexíveis) devem permitir que pessoas que estão na informalidade, trabalhando em jornadas reduzidas, possam migrar para a formalidade.
Emprego é prioridade
Um levantamento da Quorum Brasil, empresa de pesquisa de mercado, feita em quatro capitais — São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife —, revela que 63% de trabalhadores citam o emprego como o assunto mais relevante para 2018. Ainda que timidamente, a maioria entende que haverá melhora em relação às contratações no ano que vem. E esse otimismo está mais latente entre os recifenses e os paulistanos.
No Rio, 41% dos entrevistados dizem que a situação do empregado vai melhorar. Outros 30% acreditam que, no ano que vem, o mercado de trabalho será igual ao deste ano, enquanto 29% acham que o cenário vai piorar.
— À procura de soluções, muitos profissionais buscaram trabalhos autônomos durtante a crise. Foi o caso, por exemplo, das pessoas que vendem refeições nas ruas. Isso é captado nas estatísticas oficiais com o acréscimo de trabalho na informalidade. Esses trabalhadores foram buscar alternativas. Em outros casos, as pessoas não têm empregos formais, mas buscam especialização — disse Claudio Silveira, CEO da Quorum Brasil.
Investimento pessoal
Ainda segundo o levantamento da Quorum Brasil, 47% dos entrevistados declaram ter alguém desempregado na família. Entre os que atualmente estão sem ocupação, 42% dizem estar buscando aumentar sua capacidade competitiva, com cursos de aprimoramento profissional e retorno aos estudos regulares. Além disso, 67% acreditam que as empresas valorizam a aparência na hora de escolher um candidato e, por isso, 53% declaram estar cuidando mais da aparência.
Também de acordo com a pesquisa, o desemprego está mais presente entre o público feminino, já que 33% das mulheres entrevistadas estão sem ocupação. Entre os homens, o percentual é de 19% de desocupados.
Em março deste ano, o IBGE apresentou resultados indicando que o desemprego é maior entre as mulheres. Por outro lado, elas, segundo o levantamento da Quorum Brasil, são mais positivas quanto à possibilidade de recolocação, com 82% declarando-se otimistas em relação a isso. A pesquisa entrevistou 1.013 pessoas nas quatro cidades.
Confira as tendências por carreira
Engenharia: Há alguns anos, o mercado vem avaliando e valorizando os perfis pessoais dos candidatos aos diversos cargos na área de Engenharia. Segundo especialistas, a tendência deve ser mantida no ano que vem, principalmente por conta dos objetivos de negócios das empresas. Depois de um período de incertezas e muita instabilidade, os profissionais com perfis comerciais, mais analíticos, com flexibilidade e jogo de cintura, ganham destaque, já que as empresas estão ampliando as áreas de vendas, com o objetivo de conquistar novos clientes.
Finanças e Contabilidade: Depois de alguns períodos buscando alternativas para um cenário mais restritivo e desafiador, as empresas começam a sinalizar uma retomada de seus planos. Neste cenário, a área de Finanças ganha um papel essencial para atingir o principal foco das companhias para os próximos anos: aumentar a rentabilidade do negócio. A pressão para melhorar o desempenho e as margens de lucro, diante da escassez de recursos, está entre os principais desafios dos diretores financeiros (chamados de chiefs financial officers ou CFOs), o que aumenta a responsabilidade dos profissionais da área.
Setor Jurídico: As oportunidades nos escritórios de advocacia continuarão em alta no ano que vem. Enquanto nos últimos anos as áreas de Contencioso e Recuperação Judicial geraram bastante trabalho e grande volume de contratação de profissionais com experiência, as áreas empresariais — Direito Societário, Fusões e Aquisições, e Contratos — voltaram a ganhar espaço no mercado nos últimos meses, indicando uma boa expectativa. A tendência deve ser mantida em 2018. A busca é por profissionais que tenham o espírito de proprietário do negócio, ou seja, que tenham um perfil empreendedor.
Recursos Humanos: Substituir colaboradores, principalmente aqueles que ocupam posições-chaves dentro de uma empresa, demanda, além de recursos financeiros, tempo e dedicação, impactando diretamente na produtividade do restante da equipe. Diante dessa realidade, surgem oportunidades em todos os subsistemas da área de Recursos Humanos. O destaque é para o setor de Remuneração e Benefícios, focado em estruturar cargos e salários, além de elaborar pacotes atrativos de benefícios, com o objetivo de reter talentos importantes na companhia e atrair novas contratações de peso.
Seguros: Desde 2014, com a entrada em vigor da Lei Anticorrupção (Lei no 12.846/2013) — que pune as empresas envolvidas em práticas ilícitas —, as seguradoras têm passado por várias adaptações para aderir aos novos procedimentos. Essa mudança aquece o mercado de trabalho da área e tem um impacto direto sobre o perfil do profissional de seguros. A função de analista de compliance (que implanta as normas e os procedimentos que respaldam a estrutura de gestão de riscos), listada entre as profissões em alta em 2017, continua aquecida em função do momento e das adequações do mercado.
Tecnologia: Há tempos, a área de Tecnologia não é vista somente como suporte dentro das empresas. Os empregadores querem funcionários cada vez mais analíticos, que trabalhem na resolução de problemas e que atuem como verdadeiros parceiros de negócios. Nesse sentido, existe um grande aquecimento em posições cujo trabalho resulte em aumento de vendas e geração de receita para a companhia, como aquelas ligadas a Business Intelligence (BI), Big Data e Transformação Digital, áreas nas quais as empresas estão investindo cada vez mais nos últimos tempos.
Vendas e Marketing: Atentas aos movimentos do mercado, as empresas precisam se reinventar para manter seus resultados e gerar novas oportunidades, mesmo em um cenário menos favorável. A área de Vendas e Marketing — importante para a atração e a geração de novos negócios — destaca-se nesse sentido. Poir isso, os profissionais precisam estar atentos às novas tendências, a fim de atender às necessidades cada vez mais urgentes do mercado. Diariamente surgem novos termos, atribuições e especializações possíveis. Por isso, é preciso se qualificar constantemente.
 
FONTE: JORNAL EXTRA