O programa Empoderando Refugiadas começou hoje (29) mais uma série de workshops para preparar mulheres vindas de diversos países para o mercado de trabalho brasileiro. As estrangeiras terão quatro encontros assuntos que vão desde a elaboração do currículo até noções de empreendedorismo, passando por educação financeira e especificidades da cultura brasileira.
“Entre os workshops, para não se perder esse vínculo, tem sessões presenciais de coaching, para trabalhar a parte profissional e também emocional delas”, acrescenta a assessora de direitos humanos da Rede Brasil do Pacto Global, Gabriela Almeida. A rede, que reúne organizações da sociedade civil e grandes empresas, é responsável pelo programa, em conjunto com a Organização das Nações Unidas, a partir da Agência para Refugiados (Acnur) e a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU – Mulheres).
Nas duas edições anteriores, das 20 refugiadas que conseguiram acompanhar todo o programa, 18 conseguiram se inserir no mercado de trabalho, segundo Gabriela. A inserção das coachings, que fazem sessões de aconselhamento com as participantes, é uma tentativa de contornar os obstáculos que as mulheres enfrentam enquanto participam do programa. “A vida para as participantes do projeto é mais complicada. Você tem a família, tem filhos e algo acontece no meio desse caminho que não dá para elas continuarem em todos os workshops”, ressaltou.

Adaptação e reinserção

As participantes têm diversos perfis. A maioria veio da República Democrática do Congo, da Síria ou da Venezuela. Algumas chegaram há poucos meses, outras já estão há alguns anos no Brasil. A venezuelana Gabriela, de 31 anos, chegou em São Paulo há três meses. Antes, havia passado outros três meses em Roraima, onde cruzou a fronteira devido à crise na terra natal. “Não tem comida, não tem remédios”, relatou.
Cadeirante, ela foi à oficina acompanhada da mãe. As duas estão morando em uma casa no Butantã, zona oeste paulistana. Na semana que vem, Gabriela vai começar a trabalhar como assistente administrativa. Ela disse que procurou o programa para facilitar a integração na cultura brasileira. “Para se adaptar, essas coisas”, resume, um pouco tímida.
Nem sempre é simples para as estrangeiras conseguirem uma vaga em um emprego semelhante ao do país de origem, como explica Gabriela Almeida. “Por causa dessa complicação do Brasil de revalidação de diploma, o processo para você entrar em uma vaga específica com o que você já trabalha no país de origem é mais complicado. Mas a gente tenta encaminhar para o perfil da pessoa”, enfatiza.
A inciativa tenta também abrir as portas para aquelas que buscam trabalhar por conta própria. “Tem algumas que já têm esse desejo de serem empreendedoras, mas para elas é muito válido passar por esse processo para elas saberem das normas e como atuar no Brasil. Quais são os seus direitos de mulher, de empreendedora e de colaborador a de uma empresa”, acrescenta.

Especialmente vulneráveis

A proposta de tratar somente de mulheres vem da percepção de que esse grupo tem vulnerabilidades específicas que merecem atenção especial. “A gente sabe que, embora no Brasil as mulheres não sejam a maioria dos refugiados, elas enfrentam dificuldades grandes sobretudo nessa área de inserção no mercado de trabalho”, destaca a assistente de soluções duradouras da Acnur, Camila Sombra.
Alguns desses obstáculos estão relacionados, segundo Camila, ao fato de essas mulheres estarem sozinhas com os filhos, sem uma rede de apoio no novo país. “Elas, com filhos, às vezes não têm outra pessoa da família que possa ajudar aqui na vida no Brasil. Isso é um fato que torna mais difícil a inserção no mercado de trabalho”, ressalta.
Fonte: IstoÉ